sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Os dois problemas fundamentais da reforma do ensino - Por: Bruno Garschagen


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Para começo de conversa, parem de chamar ensino de educação. Quem educa é a família. A responsabilidade da escola é ensinar. Vejam o vídeo acima do professor José Monir Nasser. Ponto.
Não sou especialista em educação, mas, do ponto de vista político, há dois problemas fundamentais na reforma proposta pelo governo de Michel Temer:
1) O governo federal decidir um assunto que deveria ser definido pelos Estados, que são responsáveis pelo ensino médio. Como o ensino médio estatal é, na média, sofrível, os Estados estão na bancarrota e a reforma exige mais investimento, trata-se de uma conta que não fecha.
2) A quantidade de disciplinas e o aumento da carga horária tendo como norte o ensino em tempo integral não deveriam ser um objetivo final (sim, sou favorável a um currículo obrigatório mínimo). A finalidade do ensino deveria ser essa coisa velha, antiga, arcaica, estilo Idade Média: um ensino de qualidade e exigente que permita ao aluno querer estudar e terminar o ensino médio dominando o idioma pátrio e as operações matemáticas (e dominando ou sabendo as demais disciplinas).
A responsabilidade do governo federal deveria ser limitada ao ensino superior, que é sua atribuição.
O padrão é insólito: ensino fundamental e ensino médio estatal são uma porcaria. Estudei parte da minha vida em escola pública municipal e sei do que estou falando - de lá para cá a coisa piorou. A maioria dos alunos estava lá para comer merenda – e não poderia ser diferente, considerando que não tinham o que comer em casa.
Lembro que um colega de turma desmaiou de fome no início de uma aula de educação física que era realizada numa quadra poliesportiva que parecia uma cidade da Síria recém-bombardeada. Aula de educação física? O professor jogava uma bola de futebol velha para cima e sempre tinha um colega a gritar a palavra de ordem: "bola presa é pau". E começava a carnificina.
Tirando alguns heróis que davam expediente como professores, donos de uma capacidade extraordinária de ensinar a matéria e de nos empolgar, o nível geral era, na falta de uma palavra melhor, sofrível. Terra devastada, como no famoso poema de T. S. Eliot.
Por isso, senhoritas e cavalheiros, qualquer reforma de ensino na atual situação do Brasil estará fadada ao fracasso se não se concentrar em pontos fundamentais como:
- Escolas com infraestrutura e limpas;
- Diretor (a) que saiba administrar a escola;
- Professores bem-remunerados que dominem o conteúdo e saibam transmiti-los de forma a seduzir os alunos para o conhecimento;
- Programa curricular obrigatório mínimo definido localmente no âmbito municipal (ensino fundamental) e estadual (ensino médio). Político e burocrata em Brasília não têm condições de reunir e processar todas as informações dispersas e necessárias para definir adequadamente a base curricular de acordo com as especificidades e necessidades regionais.
(Aqui entramos numa outra discussão fundamental: como municípios e Estados terão dinheiro para investir o necessário no ensino se a nossa estrutura tributária drena quase todos os recursos provenientes de tributos para a União?)
Essa tara centralizadora que deposita todas as esperanças de solução no governo federal é um de nossos principais vícios. Como se o governo federal tivesse a capacidade de realizar todas as expectativas de maneira eficiente, o que é um contrassenso se considerarmos todo o debate envolvendo os fracassos do governo federal. Aí eles dizem: basta vontade política. Não, doutor, não falta só vontade política. Falta dinheiro, falta formação gerencial e faltam ideias adequadas e uma compreensão completamente distinta sobre o papel do Estado e da responsabilidade dos indivíduos, a começar pela família.
Como pode dar certo uma escola semidestruída, toda pichada, com vazamentos por toda parte, com professores mal qualificados e mal pagos, com jovens mal educados e violentos atrapalhando aqueles que querem estudar e agredindo professores, e com os pais dos alunos mal educados e violentos que vão à escola agredir e ameaçar diretores e professores?
O problema fundamental da reforma, portanto, não foi apenas ter sido implementada por medida provisória e sem um debate prévio como se tem dito por aí - debate este que serviria para ratificar propostas ruins e sempre com a perniciosa ideia da "universalização", do "currículo nacional comum" e de todas as variações da pedagogia do oprimido que orientam o ensino formal no Brasil.
Sobre o conteúdo, não é preciso inventar a roda: voltemos aos clássicos, meus filhos, aos clássicos, e atualizemos a maneira de apresentá-los aos alunos de hoje.
Tudo o que fuja disso é tergiversação ou discussão irrelevante sobre uniforme para menino que não se sente menino e menina que não se sente menina - seguindo um programa ideológico convertido em lei. Neste caso, a minha proposta é simples: uniforme eunuco para omitir o gênero.


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