segunda-feira, 8 de agosto de 2016

POR QUE GOSTAMOS DE OLIMPÍADAS? PORQUE SÃO POLITICAMENTE INCORRETAS - Flavio Morgenstern

Meritocracia, ganhadores e perdedores, reconhecimento dos melhores, militarismo... Olimpíadas são o zênite do politicamente incorreto.
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Todos esperaram com apreensão pelas Olimpíadas no Rio 2016. Até o início dos jogos, as notícias sobre as Olimpíadas que eram comentadas no Brasil envolviam sempre a politica e os pequenos desastres do cotidiano brasileiro: nada sobre esportes.
Agora, de volta à rotina global: brasileiro é viciado em esporte até 2 da tarde de segunda-feira. Nada melhor do que Olimpíadas, com mais assunto do que Copa do Mundo.
Bem ao contrário do discurso manjado de que brasileiro precisa se importar com política, e não com esporte (como se em um país de altíssimo padrão de vida, como Áustria, Suíça ou Canadá, estivessem todos sempre falando de política), é no esporte que descobrimos muito sobre nossa mentalidade. No esporte aprendemos não só sobre o esporte. É a situação em que atleta e platéia estão no limite. É quando se testa o eixo central de nossa psique.
Olimpíadas ou, afinal, todos os esportes, são competição. Nada de “igualdade”. Tem vencedor e tem perdedor. É meritocracia pura, adicionada à adrenalina, nervosismo, dificuldade de se fazer o que se faz 80 vezes por dia nos treinos uma única vez em público.
Atletas do atletismo chorando nas Olimpíadas de Londres, 2012É difícil ser o primeiro a aceitar o difícil fardo de contar a verdade ao país, mas quando você está torcendo para um cabra ser o campeão, está também torcendo para o outro neguinho perder. Sair do estádio chorando. Ter 4 anos de trabalho, esforço, dedicação, vocação, fé e esperança jogados na lata do lixo. De nada valeu. Às vezes, nem para um bronze. Na maioria dos casos, direto para o ostracismo e o fim da carreira. De volta a lavar pratos e ajudar a mãe a fazer crochê pra fora. Alguém sabe o fim de ex-atletas de Olimpíadas não-vencedores?
É exatamente o oposto do que fomos ensinados a louvar como um reino de justiça e alegria. E é só neste mundo do mérito, do esforço, da desigualdade absoluta, do vencedor ganhando do perdedor, que vemos justiça e alegria de verdade. É para ver o melhor, não os iguais. Nem no nado sincronizado tem igualdade.
Não tem “igualdade” de medalhas pra todos. O que importa é competir. Somos todos iguais. Meritocracia é nazismo. Igualdade de oportunidades. Nada desse papinho para gente economicamente inativa se sentir super-herói.
Olimpíadas são vida real: uma vez, não deu certo, rodou, talvez você esteja velho demais pra próxima, o investimento é muito caro para confiar de novo em alguém sem garantia, tem mais um contingente na fila querendo sua vaga – vaga esta muitas vezes para apanhar na cara diante do mundo.
Para quem não conhece, sobretudo universitários perdidos em abstrações, sejam bem-vindos à vida real: aqui se ofender não serve pra nada e ninguém está nem aí para os seus sentimentos. Com o tempo você se acostuma. É uma delícia.
A idéia dos esportes é uma das coisas mais geniais e interessantes da humanidade. Que tantos sejam alienados e só tenham como conversa o último jogo do Curíntia demonstra uma alienação anterior ao esporte (sem ele, seu único assunto seria a novela, ou o islamismo; não é culpa do esporte, há uma “alienação em si“).
É o que diz o filósofo aristocrata José Ortega y Gasset, fã de futebol que, em ensaios como El Deporte, un lujo vitalPaisaje utilitario, paisaje deportivo ou principalmente El origen deportivo del Estado, demonstra como foram as regras impostas para o esporte e a atividade lúdica do homem que, posteriormente, foram cristalizadas em algo muito mais complexo: as instituições “sérias” da política e da civilização.
Judoca Eduardo Santos cumprimenta adversário em 2008Bem antes de copiar os juízes e regras civilizacionais, portanto, o esporte é que as gera, e o mundo jurídico, militar e do convívio público que as emula. Foram regras para solucionar conflitos entre hordas de bárbaros disputando mulheres de tribos invadidas que deram os primeiros passos da nossa convivência civilizada, o fair play que hoje rege até o Direito Internacional.
A leitura é corroborada por seu amigo, o historiador holandês Johan Huizinga, que em livros como Humo ludens: o jogo como elemento da cultura confirma a tese de Ortega do esporte como algo superficial, banal, luxuoso, supérfluo: ou seja, criador da vida, exatamente aquilo pelo qual vivemos, trabalhamos, nos alimentamos e lutamos.
A honestidade interior e o risco de decadência no esporte, nas Olimpíadas ou numa pelada de rua, apontam para o risco do fim das normas da civilização – algo incrivelmente sério numa era em que a nova guerra que se desenha no horizonte tampouco está interessada na Convenção de Haia e a busca por armas químicas sob milhões de civis é uma constante. Não à toa, Huizinga lembra que os Estados máximos sempre promoveram os esportes, nos fascismos ou no socialismo. O culto ao corpo guerreiro sempre foi uma constante – o que vale(rá) um artigo à parte.
Nas Olimpíadas, os esportes escolhidos não são recordes de público, mas até hoje mantêm tal princípio de imitar uma guerra com regras, com fair play (e o que é um debate parlamentar, senão seu sucedâneo?). Os esportes imitam caça, rouba-bandeira, testam força, habilidades com luta, precisão e mesmo fuga (incluindo ginástica artística), dentro de limites pré-definidos de comportamento.
Algo pode ser mais civilizacionalmente avançado do que o conhecimento para a caça, para transformar elementos brutos da natureza inóspita em comida? E que tal vê-los sem o sangue nas Olimpíadas elevados à beleza extrema art pour l’art no arco e flecha, tiro esportivo, esgrima, luta greco-romana, arremesso de disco? Mesmo o atletismo é atividade para medir alguém capaz de proteger a tribo contra predadores e inimigos de alguma forma.
Virgínia Thrasher - medalha de ouro com tiro com rifleNão é mera coincidência que boa parte das medalhas vá para militares – um quarto da delegação brasileira é militar, por exemplo. Quer algo mais politicamente incorreto? Ah, claro: a primeira medalha de ouro nas Olimpíadas do Rio foram para a americana Virginia Thrasher por tiro com rifle. Abençoada Segunda Emenda da mais bela Constituição do mundo! E, como já dissemos, o nome faz o sujeito.
E para o Brasil? Também tiro, na prata, para Felipe Wu, que treinou sozinho na garagem que seu pai transformou em estande. O maior especialista em segurança pública do Brasil, Bene Barbosa, conta que Felipe Wu foi incorporado ao Exército como Terceiro Sargento já como atirador desportivo de renome internacional. Ah, claro: Felipe Wu ainda seguiu os militares e prestou continência no pódio.
Quantos policiais da polícia do politicamente correto se mataram afogados no rio de suas lágrimas só com isso?
E a divisão por sexos? O politicamente correto passa a vida garantindo que está ganhando noções de realidade que aquele povo mítico, religioso e obscurantista do passado não tinha ao falar de “igualdade de gênero”, mas tem um choque anafilático de alergia à verdade nas Olimpíadas ao notar a diferença que faria um homem competir com uma mulher no judô ou mesmo basquete. Afinal, “transexuais” com jirombas são mulheres e devem assim ser tratados, não é?
E a política internacional, que delícia de politicamente incorreto olímpico! Tentam transformar a região da Palestina dominada por terroristas islâmicos em um país à canetada, para vermos um país com o tamanho do Rio de Janeiro, seu êmulo Israel, além de ter mais Prêmios Nobel por cabeça do que qualquer outro país do mundo, ser um perigo em qualquer esporte que pratica. Com vários militares, óbvio.
Vôlei de praia - Egito x Alemanha. Olimpíadas Rio 2016Para não falar do conflito de civilizações na cara da sociedade com atletas muçulmanos, a “religião da paz” tão fofinha, terem de fazer tudo mais potencializado do que o mais radical dos evangélicos (não pode beber, sexo só depois do casamento, mulher tem de obedecer o homem que pode ter várias no seu harém, não mostrar o rosto nem no vôlei de praia etc etc etc) e terem de ser tratados a pão de ló como “é a cultura deles, temos de respeitar” pela mesma esquerda que quer destruir a cultura que permite que mulher ande com os peitos de fora na rua para alguém notar que ela existe.
Falando em vôlei, que tal lembrar dos queridinhos da esquerda brasileira, os pobres cubanos? Matadores em todos os esportes pelo mesmo culto ao corpo do socialismo que tanto mostrava seu parentesco com o nacional-socialismo – mas que tal também lembrar da típica catimba, como no famoso jogo com o Brasil em Atlanta de 1996?
As atletas brasileiras do dream team de Ana Moser, Ana Paula, Virna, Márcia Fu, Fernanda Venturini ajudavam até financeiramente suas colegas cubanas, que tiveram uma “tática” para vencer as brasileiras: xingá-las de, digamos, nomes que as feministas não gostam. Até hoje, sem um pio do movimento feminista para criticar o “espírito latino” das protégées de Fidel Castro.

Enfim, é por isso que gostamos de Olimpíadas. Para ver os melhores, não os iguais. Porque o discurso de mundo perfeito pensado no “social” e na planificação por baixo da esquerda pode funcionar muito bem para enaltecer o umbigo de quem não consegue se destacar – mas o que todos querem, ricos e pobres, “opressores” e “oprimidos”, é justamente o melhor. E que vença o melhor entre os melhores.
Agora já imaginou se as Olimpíadas fossem feitas por um esquerdista progressista politicamente correto? Ao invés de uma civilização, os gregos teriam criado apenas rios de choros.
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