sexta-feira, 25 de março de 2016

Perda total - NELSON MOTTA


O GLOBO - 25/03

Podem reparar: quando negam ‘veementemente’ ou ordenam ‘rigorosa’ investigação, é sinal de mentira grossa


Depois de um ano negando “veementemente” qualquer malfeito, a Odebrecht finalmente vai assumir suas responsabilidades no “sistema ilegítimo e ilegal de financiamento do sistema partidário-eleitoral” tentando uma delação “definitiva” que salve seus sócios e executivos da cadeia.

Reparem: quando negam “veementemente” ou ordenam “rigorosa” investigação, é sinal de mentira grossa.

Quando uma grande empreiteira contribui, ainda que legalmente, para mais de 200 políticos de todos os partidos, há algo de muito podre no sistema partidário-eleitoral do país. Óbvio que não contribui por patriotismo e espirito público, mas porque, como sabem todas as outras grandes empresas que sustentam esse sistema, quem paga a conta é que diz a hora que terminou o jantar.

O que dizer então de uma planilha com propinas pagas a políticos, funcionários e empresários, em dinheiro vivo e no exterior, com o nome e o apelido de cada um? Parece que o pessoal que paga a propina, seja como suborno ou achaque, expressa seu desprezo por quem recebe com apelidos debochados, que devem lhes ter provocado boas risadas em tempos mais risonhos.

Drácula, Nervosinho, Viagra, Candomblé, Caranguejo, Múmia, não é uma quadrilha de bandidos da Rocinha, são os homens que comandam a política brasileira, fazendo da vida pública, privada. Piada velha, mas mais atual do que nunca.

Como reconstruir um sistema politico-eleitoral quando a Lava-Jato revela ao país que dele só sobraram ruínas e escombros, que a perda é total? Como podem reconstruí-lo justamente os que o destruíram, financiados por um cartel de empreiteiras que saqueava o país e contribuía para fraudar eleições e apodrecer as instituições democráticas ?

Como o ovo e a galinha, quem veio primeiro, o político achacador ou o empresário corruptor? Tanto faz, o que interessa é que os dois se combinaram como um sádico e um masoquista, numa perfeita integração para assaltar os cofres públicos e aviltar a vida política do país, porque uns confiavam no seu dinheiro e outros no seu poder para sentirem-se acima de todos, da Constituição e das leis. Pelo menos até a Lava-Jato.

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