sexta-feira, 9 de outubro de 2015

"Então é guerra!", por Reinaldo Azevedo Folha de São Paulo





O PT está colhendo tudo o que plantou na política brasileira. É uma pena que, em muitos casos e aspectos, haja, como em toda guerra, tantos danos colaterais. Mas agora é tarde para que os litigantes mudem o rumo. A história sempre vai, nunca racha. Se a gente acha que rachou, é só porque não gostou do entrecho, que nunca é desfecho porque isso não tem fim.

Não por qualquer danação mística, mas por razões estritamente materiais, somos todos vítimas e beneficiários de nossa própria concepção de mundo. Alguns recebem palma e galardão. Outros, "cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar". Por que é assim? Porque costumamos nos cercar de pessoas que são úteis às nossas utopias, prefigurações e desejos. E com elas escolhemos o caminho da virtude ou do crime. Com elas, fazemos a história.

Pertence mais amplamente às esquerdas e, no Brasil, especificamente ao PT, a concepção de que só se faz política eliminando o adversário, que tem dois caminhos: ou se rende ou será destruído. Então não é assim? Então a narrativa de Lula não é, ainda agora, aquela do "Nós" (eles) contra "eles" (nós)? Só pode haver diálogo onde há divergência –a alternativa é a sujeição imposta ou voluntária.

O diálogo nunca foi o caminho necessário do PT. Por isso, no poder, a legenda escolheu satanizar FHC e o PSDB, ideologicamente mais próximos do petismo, e governar com PMDB, PP e a miríade sem rosto em busca de cargos. É indecoroso, não é mesmo?, que o homem visto como a principal liderança política do país tenha inventado uma suposta herança maldita de FHC para construir um futuro bendito com José Sarney, Paulo Maluf e Fernando Collor.

Espaço para a conversa, para o entendimento, para a distensão? Agora? Por quê? Não há interlocução possível com quem quer nos destruir. Não é questão de gosto, mas de sobrevivência. A vida nos ensina a respeitar a natureza das coisas, das pessoas, dos processos, das entidades, dos grupos. E o PT tem a sua. Para que pudesse fazer diferente, teria de ser composto de outra matéria.

"Ah, política é assim mesmo..." Não é, não! Perguntem a FHC se era o PFL o melhor parceiro de suas referências bibliográficas. Mas com quem fazer as reformas, abrir a economia, romper algumas amarras e visões de mundo que nos condenavam ao atraso? Quem faz política precisa saber unir convicção e responsabilidade. Quando a primeira faz sombra na segunda, tem-se a crise; quando o contrário, a estabilidade.

No seu 35º ano, 22 na oposição e 13 no poder –salvo engano, a melhor relação tempo de vida/tempo de poder da história brasileira–, pergunta-se: o PT se vergou aos valores da democracia? A resposta está nos dois documentos redigidos pela Fundação Perseu Abramo (e assemelhados), sob a coordenação de Márcio Pochmann, um rapaz que veste golas chinesas como sintoma...

O lixo intelectual que ali se produziu deixa claro que, para eles, o diálogo com o "outro mundo", com os adversários, é impossível. A "intelligentsia" petista entende que os que não comungam de sua visão de mundo não têm nem mesmo direito ao equívoco. Só lhes restam má-fé e má-consciência. Ora, por que conversar com gente assim?

Diálogo com petistas? Só quando eles estiverem na oposição. Mas, como sempre, eles não vão querer conversa porque, afinal, são vítimas e beneficiários de sua própria concepção de mundo.

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