sexta-feira, 22 de maio de 2015

"Tiro no peito da impostura", por Reinaldo Azevedo Folha de São Paulo


Folha de São Paulo



Marco Aurélio Garcia afirmou a Clóvis Rossi, nesta Folha, que a rejeição ao nome de Guilherme Patriota para embaixador do Brasil na Organização dos Estados Americanos se deveu à "campanha macartista de setores conservadores e da oposição". Sei. O único na grande imprensa que se importou com Patriota fui eu. 

Boa parte dos coleguinhas talvez até achasse que o diplomata deveria ir para a OEA pelos exatos motivos por que eu achava que não. E, entre esses motivos, está o fato de ele ser um discípulo intelectual de Garcia e do sociólogo filobolivariano Emir Sader.

Garcia diz que a rejeição buscou atingi-lo pessoalmente –um verdadeiro "tiro no peito". Não sei se a imagem é sua ou do jornalista. De toda sorte, o assessor palaciano não é meu candidato a sair da vida para entrar na história. Não como ele gostaria ao menos.

O homem se diz um "social-democrata de esquerda", o que me faz supor que existam o de direita e o de centro. Não sei que bicho é. Eu, por exemplo, sou um liberal. Se fosse acrescentar outro qualificativo, escolheria "conservador". Repudio a locução "de direita" apenas porque isso sugere que possa existir um "liberal de esquerda". É outro bicho que mama e tem penas.

Ainda que o liberalismo produza e distribua riquezas como nenhum outro modelo e seja o que melhor se concilia com as liberdades individuais, não saio por aí a prodigalizar suas virtudes distributivistas por uma questão de decoro intelectual. De fato, o seu, vá lá, desiderato não é a justiça social, bandeira que serve às esquerdas. Sob manto tão nobre, produziu-se o maior número de cadáveres de que se tem notícia. Ou alguém contesta?

"Social-democrata de esquerda", Marco Aurélio? Sob a sua inspiração, em 2012, o governo Dilma suspendeu do Mercosul o Paraguai –por ter deposto legal e legitimamente um presidente– e abrigou a Venezuela, já então uma ditadura que matava opositores nas ruas. Movido pelos mesmos valores, em 2009, o governo Lula já havia praticando ingerência ainda mais grave em Honduras. Em companhia de Chávez, tentou, na prática, insuflar uma guerra civil naquele país.

O PT, que tem em Marco Aurélio o seu guia genial para assuntos de política externa, jamais emitiu um pio contra a truculência de governos de esquerda ou antiamericanos. Em fevereiro, depois da prisão arbitrária de Antonio Ledezma, na Venezuela, o Itamaraty teve o descaramento de emitir uma nota instando "todos os atores envolvidos a trabalhar pela paz e pela manutenção da democracia". Ou por outra: o governo Dilma sugeria que as vítimas e seus algozes buscassem um meio termo bom para todos, para quem batia e para quem apanhava. Mais grotesco do que isso, só o "diálogo" com o Estado Islâmico...

Há quem não goste de um Senado que arranca de um candidato ao STF o "compromisso vinculante" de, se ministro, respeitar os fundamentos da propriedade privada e da família? Há quem não goste de um Senado que recusa um embaixador que fizera palestra no Foro de São Paulo, um núcleo de conspiração contra a democracia? Pois eu aplaudo! Luiz Edson Fachin (aprovado) e Patriota (reprovado) eram candidatos a cargos de Estado. Até no PT há senadores dizendo "não" a Dilma. Por que haveriam de sempre dizer "sim" os que petistas não são?

"Ah, mas Renan se aproveitou!" E daí? Não tenho como impedi-lo. Mas tenho como dizer quem é Fachin, quem é Patriota e quem é Garcia. E digo.

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