quinta-feira, 23 de abril de 2015

Demétrio Magnoli - Leis em movimento


• O Supremo é o guardião da Constituição. Mas Luiz Edson Fachin, que vai ser sabatinado pelo Senado, atribui poucos méritos ao texto constitucional

- O Globo

O Senado sabatinará o jurista Luiz Edson Fachin, indicado por Dilma Rousseff para a cadeira vaga no STF desde a renúncia de Joaquim Barbosa. O fato de que Fachin fez campanha para Dilma, em 2010, não o desabona. “Ele manifestou uma posição política, votou na presidente”, disse o senador tucano Álvaro Dias, para explicar: “O que deve prevalecer não é a opção política circunstancial” mas “o notório saber jurídico, a reputação ilibada e a independência de quem vai julgar”. De fato, em 2002, o Senado aprovou a nomeação de Gilmar Mendes por FH e, em 2009, a de Dias Toffoli por Lula, sem impugnar a “opção política circunstancial” de nenhum dos dois. O problema é que, no caso de Fachin, a “opção política” não expressa um exercício individual de cidadania, mas uma militância específica na arena do Direito.

“Tenho em minhas mãos um manifesto de centenas de juristas brasileiros que tomaram lado”, discursou Fachin cinco anos atrás. “Apoiamos Dilma para prosseguirmos juntos na construção de um país capaz de um crescimento econômico que signifique desenvolvimento para todos”. Há algo extraordinário quando juristas assinam coletivamente um manifesto político. Manifestos de intelectuais, economistas ou sambistas são só opiniões. Por outro lado, um “partido de juristas” tem o condão de ameaçar uma ordem jurídica fundada sobre o alicerce da neutralidade da Justiça. É isso que deveria acender uma luz de alerta no plenário do Senado.

O “partido de juristas” que escolheu Fachin como seu porta-voz não é o PT, como imaginam tantos espíritos simplórios. O “lado” dos juristas “que tomaram lado” é o da mudança política e social pelo Direito, à margem da vontade majoritária refletida pelo voto popular. “Se o conselho que se dava aos juízes antigos da Itália era não use a testa, use o texto, hoje a máxima pode ser reinventada para use a testa, não esquecendo do texto e seu contexto”, escreveu o indicado de Dilma em artigo recente. Obviamente, o juiz tem a prerrogativa de interpretar a lei à luz de princípios gerais e circunstâncias singulares. Contudo, de acordo com Fachin, os juízes, como coletividade que tem “lado”, devem abrir as portas para o futuro, guiando a sociedade numa direção virtuosa.

O STF é o guardião da Constituição. Fachin, porém, atribui poucos méritos ao texto constitucional. Num ensaio para a “Revista de Direito Brasileira”, publicado em 2011, ele menciona “a Constituição que não vimos nascer”, qualificando o processo constituinte da redemocratização como “uma promessa” que “se converteu em ausência” pois “nela, o que de pouco Marx havia deu lugar a muito Tocqueville”. O fracasso, teoriza, decorreu de um recuo, “a nostalgia da primeira modernidade”, que o jurista entende como primado do indivíduo sobre o coletivo e do mercado sobre os direitos humanos. Não há nada de errado com a crítica acadêmica à Constituição, mesmo quando exprime impulsos autoritários. Outra coisa, bem diferente, é introduzi-la na Corte Constitucional.

Segundo a tese de Fachin, o “leito de Procusto” do Direito é a economia de mercado, pois “a compra e venda que tudo transforma em mercadoria” interpõe-se “entre os significados da equidade, democracia e direitos humanos”. Na sua visão, a prevalência do mercado “afasta o Estado-legislador do centro dos poderes e intenta limitar o Estado-juiz a retomar-se como bouche de la loi” (isto é, numa antiga expressão pejorativa, como mero arauto da lei). O ideal do jurista, camuflado na floresta de uma retórica hermética, é a concentração do poder no Estado e a autonomia dos juízes para implodir o “leito de Procusto”.

O ativismo judicial de Fachin não encontra limites. Se, como imagina abusivamente, nosso arcabouço legal não é muito mais que uma reprodução das leis do Estado liberal do século XIX, a solução seria fabricar, pela vontade dos juízes, uma nova Constituição. A Carta de 1988 “proclama erradicar a pobreza” e “reduzir as desigualdades”, mas “não constrói searas de soberania popular”, acusa no mesmo ensaio, para indicar o caminho: “É evidente que uma Constituição se faz Constituição no desenrolar de um processo constituinte material de índole permanente”, pelo recurso a “ações afirmativas” e pelo “resgate de dívidas históricas”. Se os senadores aprovarem o nome de Fachin, estarão dizendo que deve ser atribuído ao STF um poder constituinte.

O horizonte de um “processo constituinte” de “índole permanente” é um tanto assustador. A filósofa Hanna Arendt enfatizou que, nas ideologias totalitárias, o movimento é tudo e “o próprio termo lei mudou de sentido: deixa de expressar a estrutura de estabilidade dentro da qual podem ocorrer os atos e os movimentos humanos para ser a expressão do próprio movimento” (“Origens do totalitarismo”). Seria ridículo apontar em Fachin um cultor do totalitarismo. Contudo, sua aversão à “estrutura de estabilidade” da legislação e sua obsessão por “searas de soberania popular” criadas pelo gesto soberano do juiz não podem passar em branco numa sabatina digna desse nome.

O “partido dos juristas” almeja reescrever a Lei, interpretando livremente os princípios gerais do Direito para dinamitar as heranças constitucionais da “primeira modernidade”. E eles querem operar acima e além dos limites definidos pela separação de poderes: “Quando (...) o Judiciário se vê compelido a debater questões de poder, assacam-lhe de pronto a crítica (...) do ativismo judicial”, reclama Fachin, sem se dar conta de que o povo elege o presidente e os legisladores, mas não elege juízes.

Displicente, o Senado aprovou o nome de Dias Toffoli, ao qual faltava o “notório saber” para ocupar uma cadeira no STF. Agora, os senadores enfrentam um desafio distinto: o nome escolhido por Dilma usa um indiscutível “notório saber” para contestar a ordem constitucional e as prerrogativas do Congresso. É hora de dizer “não”.

6 comentários:

  1. Parabéns pelo excelente artigo, Demetrio. O triste é saber, de antemão, que pouquíssimos o compreenderão.

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  2. Rumo ao bolivarianismo...

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  3. Li, reli e não entendi, só sei que nada sei, estamos num mato com muito cães que ladram e roubam tudo e a todos.

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  4. Não é mais caso de impeachment. Esse governo todo do PT é caso de crime de Lesa-pátria. Caso de cadeia. Dilma e Lula deveriam estar presos. Se aproveitaram do cargo e do poder, aliás só se elegeram desde o começo, com essa meta, de financiar, fortalecer, integrar o golpede ditadura comunista bolivarina na América Latina, incluindo o Brasil. Usaram a mentira de eram democratas e pela democracia,porqeu se dissessem que eram na verdade e o que pretendiam fazer, jamais seriam eleitos, para dar um golpe de ditadura comunista no país. Não houve empréstimo secreto , houve envio, doação, tranferência secreta do nosso dinheiro, usando o BNDS para disfarçar com esse negócio de obra, para financiar as eleições, primeiro de Hugo Chavez, depois de Maduro, de Evo Morales, Christina Christner e financiar e fortalecer as ditaduras comunistas também em Cuba e nos tais países de ditadores africanos. Esse é o tal plano de integração da América Latina de Lula e do Foro de São Paulo. Essa quadrilha de golpistas tem que ir pra cadeia.O dinheiro da corrupção da PETROBRÁS é para financiar as campanhas políticas deles aqui no Brasil e a fraude eleitoral e garantir que eles sempre ganhem as eleições aconteça o que acontecer. Isto é que tem que vir a tona e ser denunciado. Um senador interrogando o Luciano Coutinho, presidente do BNDS, disse a ele que esteve no Porto Mariel em Cuba e quase não viu equipamentos, maquinas,brasileiras lá. Mas chinesas. O tal do Luciano Coutinho estava falando do investimento do BNDS em maquinaria e equipamentos para as empresas brasileiras trabalharem na construção do Porto Mariel. Esse Porto Mariel e as outra obras que eles dizem ter financiado em todos os países comunistas (o que por si só, já foi errado e ilegal porque o BNDS é para investir no desenvolvimento do Brasil, tem que ser investigadas. E os deputados e senadores deveriam ir até esses países checar a existencia e a situação dessas "obras" , como foram construídas, por quem e se foram. (Por favor investiguem isso urgente)Acorda mais um pouco aí Brasil!!!!!!!!!!! Não temos que pedir impeachment mas cadeia por crime de Lesa-Pátria e golpe de ditadura comunista bolivariana petista no Brasil para eles e seus comparsas e colaboradores, em todas as instâncias, como esse bandido farsante desse Luciano Coutinho, que tem que ir para a cadeia também. Dilma mentiu sobre os empréstimos do BNDES
    https://youtu.be/lTetTTodnnM

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  5. O golpe da credibilidade
    Teoria do VOTO IMAGINÁRIO - PARTE I ( O golpe da credibilidade)
    https://youtu.be/6xInJdy7FTs

    A Globo é o PT até o talo.
    https://youtu.be/PB42tbIPos8

    A Globo e a ajudazinha ao Foro de São Paulo

    https://youtu.be/lmBBDjRKxCs
    Dá pra perceber que há divisão/direção, petista e anti petista na Globo. Parece que o Jornal Nacional tem uma direção mais petista . A Globonews é mais independente e anti petista , e o Jornal das 10 já tem uma direção mais independente e anti petista também. Mas a infiltração petista, pró comunista é visível.

    E agora o que fazer?
    https://youtu.be/Bd2Gb6ufVfk
    O que aprendi com o professor Olavo - PT-PSDB, nova ação da parceria
    https://youtu.be/RlRPIQiyQR8

    A Estratégia das Tesouras no Brasil - pt 2-2
    https://youtu.be/x8Jbp-jrNAM

    A Estratégia das Tesouras no Brasil - pt 1-2 Estratégia das Tesouras no Brasil - pt 1-2
    https://youtu.be/EdbR7xJfK40

    Eduardo Jorge, um dos fundadores do PT, defendeu uma aliança PT e PSDB no passado. Como disse Olavo de Carvalho não há divergências ideológicas entre os dois partidos, mas uma disputa politica pelo poder. PT e PSDB se alternam no poder dando uma impressão democrática no cenário político.
    Estratégia das tesouras PT e PSDB. Olavo de Carvalho sempre tem razão.
    https://youtu.be/82C2aoEVpyM

    Qualquer pretenso analista político que não entenda que a corrupção sistêmica é parte integrante de um projeto de conquista do poder total, que esse projeto está intimamente ligado a terrorismo, narcotráfico e contrabando de armas, e que o comando da coisa vem de Cuba por meio dos encontros reservados do Foro de São Paulo é um idiota útil na mais bondosa das hipóteses. Sua opinião a respeito do que quer que seja não vale nada, a não ser na hipótese do relógio parado. - OLAVO DE CARVALHO

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  6. Prezado Senador Rafael Brasil,
    como cidadã, e brasileira que amo meu país e a democracia, venho externar minha profunda angústia com a indicação do advogado Luiz Fachin para ocupar vaga de Ministro do Supremo Tribunal Federal
    Muito se publicou esta semana para revelar o curriculo do indicado. Mas o que mais impressiona é sua ligação com movimentos ditos sociais, como o MST, na verdade movimentos criminosos, bem como sua profunda e inegável simpatia ao pensamento marxista.
    Sua ligação com. o atual governo vai muito além das boas relações sociais, sendo clara a vinculação político ideológica com o populismo e a pauta do Foro de São Paulo. Três dos textos publicado são os mais relevantes, ao meu ver, para demonstrar o enorme risco à nossa já tão combalida democracia, caso esse senhor venha a ter seu nome aprovado pelo Senado Federal para ocupar uma das vagas do STF.
    Assim sendo, venho pedir que Vossa Excelência, cônscio da enorme responsabilidade na escolha do futuro Ministro do STF, rejeite o nome de Luis Edson Fachin, sob pena de trair sua condição de depositário de esperança do povo brasileiro, e de nos subtrair a chance de um país livre e democrático no presente e no futuro dos nossos filhos. Anny Michele Martins Ferreira.

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