quarta-feira, 26 de março de 2014

Sobre o nosso rebaixamento - MANSUETO ALMEIDA

Sobre o nosso rebaixamento

Sem entrar no mérito dos erros e acertos das agências de rating e independentemente do que isso significa, o fato é que o cenário hoje descrito pela analista da S&P em entrevista ao jornal folha de São Paulo (ver entrevista da Lisa Schineller) já está no radar de analistas independentes há muito tempo.
Não temos risco de calote, mas estamos presos em um equilíbrio ruim caracterizado por: (i) baixo crescimento (2% ao ano); (ii) taxa de juros básica elevada acima de 10% ao ano, (iii) uma conta de subsídios (equalização de juros) que será transformada em divida em algum momento; (iv) um gasto público que pelas regras atuais continuará crescendo acima do crescimento do PIB, o que implicará em aumento de carga tributária; (v) incertezas em relação ao comportamento do investimento público e em relação à política econômica, inclusive ajuste dos preços da tarifa de energia e do preço dos combustíveis, empréstimos para bancos públicos, etc.
Tudo isso descrito acima vem sendo discutido com certa regularidade e consistência por vários analistas econômicos e repassado também com regularidade para economistas de bancos e consultorias de fora que visitam o Brasil. Isso tudo significa menos dinheiro externo para financiamento de empresas brasileiras e/ou custo mais elevado. Escutei recentemente de um analista de um banco de fora o seguinte: “sim, se vocês continuarem me pagando um juro real elevado acima de 6% vou continuar comprando títulos brasileiros”. Vale lembrar que o governo atual “planejava” trazer a taxa de juros real no seu último ano para 2% – algo que não será possível nem em sonho.
Não há risco de calote do governo brasileiro, mas as empresas terão que arcar com juros mais elevados para se financiarem. Isso afetará nossas grandes empresas que têm acesso ao mercado internacional e que vinham utilizando com frequência este canal de financiamento. O que aconteceu esta semana com o rebaixamento do nosso rating pela S&P vinha sendo construído pela nossa equipe econômica já há algum tempo.
Quando alguém me manda um e-mail perguntando o que eu acho da política econômica, eu explico o que discordo, mas sempre falava que o governo estava passando por um processo de aprendizado e que as coisas iriam melhorar. Deixei de ser otimista quando passei a escutar de economistas próximos ao governo que eles têm dúvidas do “real” aprendizado da equipe econômica. Todo mundo sabem quem são esses economistas.
E o que se escuta dos economistas mais heteredoxos que criticam os “economistas assustados”? (i) que superávit primário não é importante; (ii) que o governo pode financiar qualquer déficit nominal; (iii) que elevar a taxa de juros para combater inflação é burrice; e (iv) que o crescimento mais rápido do PIB decorrente do plano de concessões resolverá todo e qualquer problema fiscal.; (v) e que a taxa de cambio mais desvalorizada levará a mais crescimento. Nada disso a meu ver está correto.
Um vez escutei de um economista famoso a seguinte frase: “é triste ver tantos garotos discutindo sobre superávit primário, quando há tantas coisas mais importantes”. De fato, termos tantos “garotos” discutindo sobre superávit primário mostra como andamos para trás e criamos novamente um problema que já havia sido resolvido. Projeções de superávit primário para que a dívida não cresça era um exercício que ninguém mais fazia e que agora todo mundo voltou a fazer.
“Mas o desemprego está baixo, a nossa pobreza caiu, a queda da desigualdade no Brasil foi uma das maiores do mundo nos últimos doze anos e temos hoje mais da metade da população na classe média?”
sim, mas estamos falando de superávit primário, inflação, divida, carga tributária e crescimento. Não se está discutindo queda da pobreza. Mas se continuarmos no mesmo curso, em algum momento do debate macro pode encontrar esse outro lado até porque, como tenho exaustivamente repetido, não há mais espaço para continuar com a expansão da política social simplesmente aumentando o gasto, a não ser que estejamos dispostos a ter uma carga tributária superior a 40% do PIB em 2018.

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