domingo, 13 de outubro de 2013

DORA KRAMER:JOGO JOGADO

Jogo jogado - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 13/10

O discurso de que um ou outro pode ser o titular da chapa presidencial será mantido por Eduardo Campos e Marina Silva até dezembro, mas a ordem dos fatores está definida: o governador será o candidato a presidente e a ex-senadora fica na vice.

Foi nesses termos que ela o procurou na véspera do anúncio da aliança e é assim que concorrerão. Não que estejam mentindo quando dizem que a definição virá em 2014. Estão dando tempo ao tempo, esperando a virada do ano para, em janeiro, explicitar em público o combinado em particular.

Até lá, investem na preparação do tão falado "conteúdo programático" - a ser divulgado aos poucos também a partir de janeiro - e farão uma dobradinha em diversos atos políticos com a seguinte simbologia: Marina entra com o sonho e Campos entra com o trabalho braçal de viabilizar material e politicamente a empreitada.

Antes de prosseguir, uma informação importante: esqueçam que um dia Eduardo Campos disse que não seria candidato se o ex-presidente Lula da Silva entrasse na disputa. A declaração perdeu a validade, por dois motivos: primeiro, o jogo é considerado por ele jogado e, segundo, não acredita nem por um segundo que Lula será candidato no lugar de Dilma Rousseff.

A sorte, portanto, está lançada. E se dependesse de Marina e dos companheiros de Rede favoráveis à aliança, a composição teria sido assumida desde o início. Ela não nutre ilusões quanto às resistências que enfrentaria junto ao "establishment". Como a disposição dela é ganhar - se fosse só para marcar posição teria ficado de fora ou ido para o PPS -, neste aspecto foi pragmática.

Sendo assim, por que adiar a oficialização da chapa, por que o suspense, por que deixar em aberto algo que já está fechado? Por razões táticas e estratégicas. Na conversa que tiveram em Brasília, o governador ponderou e a ex-senadora concordou que não seria bom entregar o jogo aos adversários logo na partida. "Quanto mais dúvidas tiverem, mais difícil fica a reação", disse ele.

Além disso, Marina Silva precisaria de tempo para "trabalhar" seus correligionários contrários à aliança e convencer seu eleitorado sobre o acerto da decisão. A indefinição oficial permite ainda que os dois deem prioridade à discussão programática que, do contrário, ficaria em segundo plano em relação às candidaturas.

Pesou outro fator: se não assumir desde já a vice, a ex-senadora, como diz um aliado de Campos, permanece "viva no processo" e ajuda o governador a se tornar conhecido devido à geração de notícias decorrentes da aliança. Efeito que o PSB já espera ver nas próximas pesquisas por causa da exposição do governador nos meios de comunicação.

Por fim, a preservação do segredo - ainda que de polichinelo - mantém em alta o interesse dos políticos e da imprensa sobre o que vai acontecer. "Se dizemos logo o que e como vai acontecer, a novidade envelhece", disse a Marina a voz da experiência de Eduardo Campos, cujo quinto filho nasce em fevereiro batizado Miguel, como o bisavô Arraes.

Relativo. O ministro Paulo Bernardo, das Comunicações, diz que no Brasil "ninguém vota no vice". Tenta reduzir a importância da aliança Campos-Marina; é do jogo. Embora diga uma verdade, não rende homenagem a um movimento de seu partido, o PT.

Quando Lula da Silva se aliou a José Alencar, em 2002, não buscava eleitores na pessoa do empresário-senador. Queria vencer resistências e mandar um recado tranquilizador ao time "de cima".

Plenária. José Serra é enigmático quanto à aliança entre Eduardo Campos e Marina Silva.

Perguntado a respeito em seguida ao anúncio, respondeu: "A assembleia, sem dúvida, vai continuar em sessão".


Tem jogo - ELIANE CANTANHÊDE

FOLHA DE SP - 13/10

BRASÍLIA - A boa notícia para Dilma é óbvia e, portanto, era esperada: com uma candidatura a menos, justamente a da segunda colocada, a presidente seria reeleita em primeiro turno, caso a eleição fosse hoje.

Mas falta ainda um ano e a má notícia para Dilma e o PT é a resposta que o Datafolha captou para a pergunta que não quer calar desde a ida de Marina Silva para o PSB: ela leva ou não seus votos para Eduardo Campos?

Num primeiro olhar, o espólio de Marina é diluído quase que igualmente por Dilma, Campos e Aécio. Num olhar mais atento, entretanto, vê-se que ela transfere votos, sim, para o novo parceiro Campos.

Em eventual segundo turno, Dilma e Michel Temer teriam 46% contra 37% da chapa Campos-Marina. Não é uma situação confortável a um ano da eleição, até porque a dupla do governo é amplamente conhecida, enquanto 43% dos eleitores simplesmente não sabem quem é Campos. Logo, ele tem bom potencial de crescimento, agora empurrado por Marina.

Os novos aliados, porém, terão um aquecimento atribulado até o início oficial do jogo. No confronto nome a nome, Marina ainda é a principal opção oposicionista, enquanto Campos continua na lanterninha.

Campos precisa ter nervos de aço para suportar a pressão e a expressiva vantagem competitiva de Marina. E Marina precisa controlar, ou adiar, sua determinação em ser presidente da República.

Quanto a Aécio, discreto estava, discreto continua nas pesquisas. Com o agravante de que Dilma tem Lula, a caneta, a exposição e os palanques --até com taxistas de Brasília. E Campos tem Marina e atrai os holofotes como novidade e grande incógnita que é. E Aécio, a que veio? Só para conversar?

O mérito da pesquisa divulgada ontem, portanto, é confirmar que tem jogo. A eleição não está decidida. É difícil competir com o arsenal da gigante Dilma, mas os "anões" da oposição têm lá suas armas.


A bomba e o traque - GAUDÊNCIO TORQUATO

O Estado de S.Paulo - 13/10

Anote-se na agenda das mutações tupiniquins: a bomba da primavera de 2013 pode ser o traque do verão de 2014. A hipótese é bastante sustentável na esfera da política. Quem diria que a sonhática Maria Osmarina Silva de Lima, ex-seringueira e ex-senadora do Acre, se uniria em aliança política com o pragmático e garboso governador de Pernambuco, Eduardo Henrique Accioly Campos, comandante do PSB, para juntos lutarem pela cadeira presidencial?

O sonho de Marina Silva é depurar as práticas da velha política, banhando-as nas águas da ética, ou, em seus termos, "assumir responsabilidades com a sustentabilidade política, social, ambiental e cultural". O pragmatismo de Campos tem como ideia "aposentar um bocado de raposas que estão enchendo a paciência do povo brasileiro para o Brasil seguir em frente". A propósito, o governador, tempos atrás, já confessara a este escriba a meta de reunir no mesmo espaço "o grupo pós-64" (citando Aécio Neves, Gilberto Kassab, Ciro e Cid Gomes, entre outros), assumir o comando da Nação e dar adeus aos guerreiros da velha-guarda.

A fome moral da líder da Rede Sustentabilidade e a vontade do neto de Miguel Arraes de presidir a mesa dos comensais do poder produziram o artefato de maior repercussão neste ciclo pré-eleitoral. Como é costume no balcão de nossos produtos políticos, as dobraduras da engrenagem deixam de ser examinadas de forma a mostrar se estão ajustadas ou até se faltam parafusos para dar lugar ao "feito extraordinário" que, à primeira leitura, induz à convicção de que tal parceria abre um rombo nos costados da candidatura governista. Nem se atenta para o fato de que o elo entre Marina e Campos, à luz da racionalidade, não é tão resistente como aparenta. Basta lembrar a posição da bancada do PSB na votação do Código Florestal, alinhada em peso aos ruralistas. Nem o látex da seringueira que Marina extraía em sua adolescência é capaz de emprestar firmeza a essa liga. Que só se justifica em função das composições frankensteinianas que a política nestes trópicos é capaz de produzir.

Façamos uma leitura dos fatores - alguns de fundo sociocultural - que embasam as práticas eleitorais, a começar pela cultura de votação. O candidato prevalece sobre os partidos. Há casos em que as organizações predominam e avançam sobre os perfis pessoais. Isso ocorre nos espaços onde a polarização entre elas é muito aguda - PT e PSDB, por exemplo, em algumas regiões formam batalhões em seus campos de guerra. Ou com as siglas de caráter religioso (principalmente as patrocinadas por credos e igrejas) e as que ocupam as extremidades do arco ideológico, cujo discurso radical é seletivo, afastando as massas eleitorais (PCO, PSTU, etc.). Sob a ordem de um sistema cognitivo que tende a privilegiar perfis pessoais, transferir votos constitui operação dificilmente viável. Assim, a hipótese de Marina transferir seu patrimônio eleitoral para Campos é frágil. Nem se fossem irmãos siameses a transferência seria realizada. O individualismo é o vértice da política brasileira. Ideários formam apenas pequenas ilhas no arquipélago.

Mas as figuras diferentes de Marina e Campos não contêm uma raiz ideológica comum? É possível. A convivência por bom tempo no mesmo canto do espectro ideológico condiciona amigos de ontem e parceiros de hoje a usarem a mesma linguagem e, por conseguinte, a comporem discurso sintonizado. O parentesco doutrinário favorece a formação de um ideário comum e, nessa condição, os noivos se motivam a formar uma união estável com direito a lua de mel de algumas semanas. Ainda assim, a transferência de voto não se dá em grandes quantidades: pode-se calcular margem de 10% a 15%.

Ademais, por maior esforço que façam os nubentes, a união estará sujeita a trovoadas. E já se ouvem trovões. Marina pediu que Ronaldo Caiado, líder do DEM, conhecido guerreiro ruralista, buscasse a porta de saída do PSB. O deputado aceitou. Alfredo Sirkis, fundador da Rede e um dos principais aliados de Marina, defende "realinhamento" de forças com políticos de outros conjuntos. Marina é contra. Imagine-se, agora, um cabo de guerra puxado pela sonhática e pelo pragmático.

Se a passagem de votos de Marina para Campos não encher o bornal dele, quem acabará levando a melhor com a "jogada de mestre"? A própria Marina, em caso de inversão da chapa, ela encabeçando-a. Ou Dilma. A proximidade entre eles foi firmada no ciclo petista. O governador e a ex-senadora saíram dos espaços que o PT abriu, à esquerda. A Rede e o PSB tentam desfraldar, mesmo de maneira acanhada, a bandeira do socialismo. Logo, o parentesco com a presidente é patente.

Outras pedras do tabuleiro deverão ser jogadas quando os discursos começarem a jorrar das trombetas eleitorais. Os eixos centrais já foram apresentados. Campos tem intensificado a pregação com os verbetes "melhorar, fazer mais e melhor, qualificar serviços públicos". Não é oposicionista como Aécio, que defende um programa radical de "mudanças". As pesquisas mostram a contrariedade da população com os serviços públicos (o que combina com o discurso de Campos), mas não está insatisfeita com seu modo de vida. O bolso do consumidor continua bancando o suprimento cotidiano.

O estado social conduz a hipótese de que o conceito "melhorar" é mais palatável que o verbo "mudar", aquele expressando aperfeiçoamento, melhoria dos serviços públicos, este despertando o receio de uma virada de mesa. A resposta das urnas, como se sabe, será dada pela economia. A manutenção de índices elevados de satisfação, o controle da inflação e a garantia de empregos seriam os requisitos para a candidata à reeleição capturar parcela dos votos de Marina.

Sob essas espessas nuvens, a tão comentada bomba da primavera ameaça perder combustão e virar um traque no verão.


Sem alterações - MERVAL PEREIRA

O GLOBO - 13/10
A primeira pesquisa de opinião depois do anúncio da união entre a ex-senadora Marina Silva e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, divulgada ontem pelo Datafolha, tem boas notícias para a presidente Dilma, que continua amplamente favorita, e, além de tudo, viu que a união dos dois adversários não produziu resultados eleitorais até o momento.   
Há boas notícias para Marina, também, que confirma a posição de mais forte adversária à reeleição da presidente, podendo ir ao segundo turno nos dois cenários em que aparece como candidata.  

Além disso, ela é a candidata da oposição que dá mais dificuldades à presidente Dilma num eventual segundo turno, embora a presidente vença em todos os cenários.  

A pesquisa mostra, porém, que Marina não transfere todos os seus votos para o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Eles vão, igualmente, para a presidente Dilma e para o candidato oposicionista Aécio Neves, no único cenário em que Dilma é eleita no primeiro turno.    

Também o ex-governador de São Paulo José Serra ganha fôlego na tentativa de ser mais uma vez candidato a presidente pelo PSDB, pois aparece em segundo lugar num cenário em que o governador de Pernambuco é o candidato do PSB.

Em confronto com Marina, tanto Serra quanto Aécio Neves, o provável candidato tucano, perdem. O melhor cenário para Serra é o em que ele enfrenta Dilma e Campos, levando a eleição para o segundo turno, o que Aécio não consegue em nenhum dos cenários. 

O melhor cenário para a presidente Dilma é o atual, em que Eduardo Campos e Aécio Neves são os candidatos da oposição. Este é o único caso em que a presidente seria reeleita no primeiro turno. É o único cenário também em que o tucano Aécio Neves chega em segundo lugar, o que não vale muito para o partido, pois não estaria no segundo turno pela primeira vez nos últimos anos. 

Claro que muita coisa acontecerá ainda até junho, prazo final para as convenções partidárias escolherem seus candidatos, mas a notícia mais importante é a comprovação de que a ex-senadora Marina Silva continua sendo a principal candidata da oposição, mesmo depois da manobra política que fez.

É sinal de que ela manteve seus apoiadores, mesmo aqueles que são contrários à união com o PSB ou, no limite, à sua inserção na política tradicional para disputar a Presidência.

A união com Campos, no entanto, não teve muita utilidade para Marina, além de dar-lhe legenda para concorrer à Presidência da República, única razão visível, aliás, para que ela se filiasse ao PSB.

Quem tem menos a comemorar na pesquisa é o tucano Aécio Neves, mas na disputa interna com Serra ele tem bons argumentos para prever crescimento durante a campanha. Serra é o candidato mais rejeitado, e também o mais conhecido da oposição, Aécio só é mais conhecido que Campos: 78% dizem que o conhecem, mas apenas 17% o conhecem "muito bem".

Para se ter uma ideia  
de comparação, Serra é conhecido por 97% dos entrevistados, sendo que 40% dizem conhecê-lo "muito bem". Em compensação, Aécio só é menos rejeitado do que Marina, que tem o menor índice de rejeição e é conhecida por 88% dos eleitores. 

A única vantagem do governador de Pernambuco que surge desta pesquisa é que ele é o menos conhecido de todos os candidatos e, portanto, tem teoricamente mais possibilidade de crescer à medida que for conhecido nacionalmente. 

A situação do momento mostrada pela pesquisa tranquiliza a presidente Dilma, que manteve o favoritismo depois do primeiro grande lance político da campanha eleitoral antecipada, e confirma que a ex-senadora Marina Silva tem condições de confrontá-la se conseguir crescer durante a campanha eleitoral. 

Para isso, poderá ter uma estrutura partidária razoável com o PSB, o que lhe daria mais musculatura do que em 2010, quando concorreu pelo Partido Verde e teve tão pouco tempo de TV quanto terá desta vez. 

O aumento do tempo de TV é diretamente ligado às parcerias que poderão ser feitas para a campanha eleitoral, mas as restrições que o Rede Sustentabilidade faz, como aos representantes do agronegócio, limitam as coligações, que seriam mais amplas se Eduardo Campos estivesse na disputa sozinho. 

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