quarta-feira, 23 de outubro de 2013

CARLOS BRICKMANN: O EXEMPLO DA CHINA


‘O exemplo da China’, por Carlos Brickmann

CARLOS BRICKMANN
Duas empresas estatais chinesas se associaram a três gigantes petrolíferas, a Shell anglo-holandesa, a Total francesa e a Petrobras, e ganharam o campo de Libra, no pré-sal. Quem diria, há 30 anos, que a China teria cacife para isso?
Mas deixemos o pré-sal de lado, que todos os meios de comunicação só falam nele. Falemos da Chery – uma produtora chinesa de automóveis, que está montando sua fábrica em Jacareí, SP. Em vez de comprar as vigas de aço no Brasil, a Chery comprou-as na China. Foram três viagens de navio, de 30 dias; 150 caminhões fretados para levar as vigas de Santos a Jacareí; batedores para a subida da Serra do Mar. E ainda assim, com impostos de importação e tudo, o material saiu mais barato do que se tivesse sido comprado no Brasil. Aliás, de certa forma, as vigas de aço são coisa nossa: boa parte do minério de ferro que os chineses usam em suas usinas de aço viajou em trens e navios das minas brasileiras até a China. O minério viajou para ser transformado em aço, o aço viaja para virar fábrica.
É muito? Não, é pouco: de acordo com a ABIT, Associação Brasileira da Indústria Têxtil, o Brasil importou US$ 5 bilhões de tecidos chineses entre janeiro e setembro. Algo inovador, revolucionário? Não: algodão, poliéster, viscose, lycra, nylon, aquilo que conhecemos e sabemos fazer. Sabemos mas não fazemos, por questão de custo; os chineses fazem, colocam lá em trens e caminhões, em navios, de novo em trens e caminhões, arcam com os impostos e sai mais barato.
Não terá chegado a hora de aprender alguma coisa com a China?
Le franglais de Madame
Uma pequena dúvida: não havia ninguém por perto que pudesse contar à presidente Dilma que a empresa Total é francesa e seu nome é oxítono? Igualzinho, aliás, ao que se diria em Português.
Chamar uma firma francesa à moda americana, “Tôutal”, não é proibido – mas é como chamar a Vale de “Veil”. E os franceses, afinal de contas sócios da Petrobras, certamente não devem ter gostado.
A palavra como ela não é
No discurso pós-leilão, em tom justificadamente eufórico, a presidente Dilma garantiu que o governo não privatizou o campo petrolífero de Libra.
Pois é: o petróleo foi vendido a um consórcio integrado por duas empresas privadas, a Shell e a Total, uma empresa de capital aberto em que o governo é majoritário, a Petrobras, e duas estatais chinesas. O consórcio vai pagar determinada quantia fixa, determinada porcentagem sobre o petróleo extraído, e lucrará com ele (ou terá prejuízo).
Como diz a presidente, não é privatização: é apenas privatização.
CPI da Siemens…
A Siemens confessou ter participado de cartel para fornecer material ferroviário superfaturado ao Metrô e aos trens metropolitanos de São Paulo. É possível imaginar, a menos que se suponha que o governo estadual seja formado por um bando de ignorantes, que esse cartel só se tornou possível depois que alguma autoridade se convenceu de que enxergar nem sempre é bom. É possível entender, também, porque o governador tucano Geraldo Alckmin bloqueou qualquer CPI na Assembléia: o período citado pela Siemens coincide com a gestão de Mário Covas, início dos governos tucanos em São Paulo.
Mas por que o governo federal, petista, inimigo dos tucanos, não faz no Congresso a CPI que prometeu?
…insondável mistério
O deputado federal Paulo Teixeira, secretário-geral do PT, anunciou em setembro que já tinha assinaturas suficientes para protocolar o pedido de CPI. Passou-se setembro, outubro já se passa, e cadê a CPI?
Será que os rumores a respeito de outros contratos, em estados outros, fazem com que o pedido de CPI fique mais demorado? Demorado e quieto: o caro leitor notará que o som do silêncio em torno da CPI da Siemens é cada vez mais profundo. Estadual ou federal, há a incômoda sensação de que, por algum motivo, ninguém quer falar do assunto.
Saber, em vez de esquecer
O deputado federal Luiz Carlos Hauly, tucano paranaense, é antes de tudo um chato: pediu informações ao Ministério do Desenvolvimento sobre financiamentos do BNDES. Hauly quer saber quais as empresas, públicas e privadas, financiadas pelo BNDES entre 2007 e 2013; valor financiado; juros combinados; prazos e carências; garantias. E por que Hauly é chato?
Porque, em muitos casos, ele sabe a resposta: as empresas de Eike Batista, por exemplo, não podem se queixar. E não há perspectivas muito claras sobre o pagamento das dívidas. Hauly diz que há muita notícia sobre falta de pagamentos e que, como o BNDES usa recursos públicos, tem de ser transparente. Há quem diga que uns R$ 20 bilhões foram emprestados sem garantias suficientes. O BNDES deveria tapar a boca do chato do deputado Hauly: divulgar tudo e mostrar que não há irregularidade nenhuma.
Homenagem aos finadosNeste dia 28, segunda, comemora-se o Dia do Servidor Público. Boa parte dos tribunais, de todo o país, passou o feriado para o dia 31, quinta (claro, o dia 28 foi transferido mas o descanso será respeitado), fazendo ponte com o Dia de Todos os Santos, sexta. Como o Dia de Finados, 2 de novembro, cai no sábado, mata-se a semana inteira de trabalho para homenagear os mortos.
Nada mais justo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O ESTADO POLICIAL AVANÇA - RAFAEL BRASIL

O estado policial do consórcio PT STF avança contra a oposição. Desde a semana passada, dois deputados federais tiveram "visitas" ...