segunda-feira, 1 de julho de 2013

MANIFESTAÇÕES NO EGITO: 'INFELIZ ANIVERSÁRIO, PRESIDENTE MORSI'

28/06/2013
 às 6:00 \ EgitoMorsiMundo ÁrabeMundo islâmicoPrimavera Árabe

Infeliz aniversário, presidente Morsi

Dias e noites sombrias no Egito
Vamos apelar novamente para a série Poderia Ser Pior, Presidente Dilma Rousseff. Imagine a sua popularidade despencar de 80% para 30% em 9 meses (isto já dá para imaginar no caso brasileiro) ou uma petição arrasar e conseguir em dois meses 15 milhões de assinaturas pedindo a sua renúncia, num país amargando problemas de carência de gêneros básicos, desabastecimento de gasolina e apagões. Ainda por cima, com um crescente cerco às liberdades politicas básicas. Um cenário de caos político e econômico.
Este é o Egito do presidente Mohammed Morsi. O funcionário da Irmandade Muçulmana completará um ano de poder no domingo, com a previsão de protestos em massa e o potencial de dramáticas ramificações. Morsi tem sua base, também mobilizada em manifestações. A oposição é mais difusa, herdeira dos protestos que levaram à renúncia do ditador Hosni Mubarak há dois anos e meio.
Lá está a moçada secular, puxando um cordão de gente furiosa e decepcionada por motivos variados (do excesso de mesquitas à carência de empregos). Há a acusação de Morsi ter sido eleito numa democracia apressada e de manter o seu perfil iliberal. Já arautos do governo dizem que os manifestantes são liberais, mas antidemocráticos, pois não aceitam a vontade das urnas. O movimento arquitetado em torno da petição pela renúncia de Morsi e antecipação de eleições, chamado Tamarod, rebelião em árabe, coletou rapidamente 15 milhões de assinaturas. São dois milhões a mais de votos do que os obtidos pelo presidente no segundo turno das eleições em junho de 2012.
Morsi, um fracassado
Morsi merece ao menos receber esta petição como presente de aniversário no poder. Sua postura é conspiratória, antidemocrática e gerencialmente ele é incompetente. O país está em ritmo de fúria permanente. Não falta combustível para protestos (falta gasolina).
Morsi consegue moblizar suas massas, mas também as do outro lado. Polarização perigosa. Quando ele emitiu uma declaração constitucional, garantindo a si poderes ditatoriais, centenas de milhares de pessoas foram às ruas. Morsi foi forçado a revogar o decreto.
No mesmo padrão, semanas atrás, ele nomeou um dirigente do grupo radical Gamaa al-Islamiyah para governar a província de Luxor, um imã para turistas estrangeiros. Gamaa abandonou a luta armada, mas não o radicalismo. Foi o grupo terrorista que matou dezenas de turistas estrangeiros nos anos 90. Com a indignação, o governador renunciou, mas o resultado foi mais polarização. O importante para Morsi era cristalizar seu apoio entre os islamistas, muitos dos quais o consideram moderado.
A perseguição a liberais e cristãos coptas é um horror no Egito de ampla maioria sunita, mas nos últimos dias ocorreu o linchamento de integrantes da pequena comunidade xiita do Egito. Morsi condenou a barbárie, mas este é um país em que clérigos sunitas pedem jihad contra xiitas, cristãos e judeus, além do presidente Bashar Assad, da Síria. É sempre presente o temor que o plano a longo prazo da Irmandade Muçulmana seja implantar uma “autocracia democrática”, ao estilo turco do primeiro-ministro Recep Erdogan. Ao contrário dos seus primos da Tunísia, do movimento governista Ennhada, a Irmandade egípcia nunca sinalizou o interesse em contar com grupos seculares na redação da Constituição ou algum tipo de acomodação no poder .
Morsi e a Irmandade Muçulmana fracassam em um país em que o chance de êxito para qualquer governo é, de qualquer forma, remota tão cedo. O tom sobre a situação egípicia é soturno na contagem regressiva para este primeiro aniversário da gestão Morsi e os protestos que deverão marcá-lo. O próprio presidente adverte sobre “caos” e sintomaticamente o ministro da Defesa, general Abdel Sisi, alerta que os militares não irão permitir que o país entre em um “túnel escuro”.
Com o apagão de tantas esperanças, alguns podem achar que os militares têm a luz. Golpe é a solução para a aflição. O Egito já passou por este túnel. Pegá-lo será uma opção desoladora, mas no momento qualquer caminho é estreito e escuro.

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