quinta-feira, 4 de julho de 2013

CAIO BLINDER: A REAÇÃO II

04/07/2013
 às 6:05 \ EgitoIrmandade MuçulmanaMursiPrimavera Árabe

A reação II

A Irmandade Muçulmana queimada
No passado, desde os tempos da ditadura nacionalista de Gamal Abdel Nasser nos anos 50, a Irmandade Muçulmana sofreu ondas de repressão sangrenta no Egito. Desta vez,  a intensidade da repressão (que, obviamente, já está em curso com o enquadramento da cúpula do governo deposto e do comando da organização) irá depender de sua reação ao golpe militar de quarta-feira.
Mohamed Mursi, no seu verbete na história, ficará conhecido como o primeiro (e abortado) presidente eleito democraticamente no Egito, beneficiado e vítima da turbulenta Primavera Árabe no começo do século 21.
Mursi foi um desastre e o Egito escapou da crise do seu governo para mergulhar na incerteza. A Irmandade Muçulmana teme um futuro desastroso, pagando por sua inépcia, arrogância e sofreguidão para abocanhar o poder, sem falar, é claro, de um ódio enraizado pelo o que ela representa, o que ela ameaça. Mas o desastre poderá ser amplo, além do Egito.
A Irmandade Muçulmana é uma multinacional islâmica. A presidência egípcia era a jóia da coroa desta organização, como o ódio que ela provoca, profundamente enraizada no mundo árabe-islâmico, seja de forma oficial, seja de forma clandestina. Ela precisará ver além de Mursi para preservar seu legado de oito décadas. Decisão tática atroz lutar por este funcionário do movimento deposto em um golpe.
Através da eleição de Mursi, o movimento buscava legitimidade e mesmo respeitabilidade aos olhos do mundo (o “nosso” mundo), como o cartão postal do islamismo político. Agora, existe a imagem do quartel-general da organização, no Cairo, incendiado e saqueado por manifestantes esta semana.
De fato, a Irmandade Muçulmana se queimou neste primeira fase da Primavera Árabe. Existe insatisfação generalizada com o movimento, especialmente quando ele se torna poder, como aconteceu no Egito e na Tunísia. Com a queda de ditaduras tradicionais no mundo árabe (o ancien régime), houve uma euforia na Internacional (oops!) Irmandade Muçulmana. Mas os dividendos políticos são sofríveis nas suas filiais na Siria, Jordânia e territórios palestinos (ela governa em Gaza com o Hamas). A perda regional de legitimidade da Irmandade ocorre com uma velocidade que supera as expectativas.
O Egito, por sua importância e pela vitória nas urnas, era o teste crucial para a busca de legitimidade para a Irmandade Muçulmana. A organização foi reprovada. Na Tunísia, o partido Ennadha, também inspirado pela Irmandade, assumiu o poder. É verdade que este partido não forçou tanto a barra como osbrothers no Egito para estabelecer leis e a ideologia islâmicas. Ao menos, reconheceu os limites da agenda islamista, mas a Tunísia, apesar do seu papel pioneiro na Primavera Árabe, não é um país importante.
Enquanto isto, monarquias sunitas tradicionais (como a Arábia Saudita, mas não o Catar, que financia a multinacional islâmica) estão um pouco mais aliviadas com os desastres da Irmandade Muçulmana, vista como uma ameaça política ao establishment. Ironicamente, no samba do árabe doido que é aPrimavera Árabe, a Síria tirou uma lasquinha e festejou a queda de Mursi, apeado do poder antes de Bashar Assad.
A Irmandade Muçulmana foi literalmente golpeada no Egito, mas esta é uma organização acostumada a resistir, algo que sempre fez com mais eficácia do que esta efêmera tentativa de governar através de Mohamed Mursi. Como em outras ocasiões, rachas deverão acontecer no movimento, com alguns setores dispostos a investir mais no pragmatismo, enquanto outros deverão considerar este ensaio democrático uma futilidade, recorrendo a violência para ditar os seus meios.
No poder egípcio, a Irmandade Muçulmana foi atroz. Fora dele, vai sofrer e fazer o mundo sofrer. Ocenário argelino é improvável, mas não custa lembrar que o pior poderá acontecer em um quadro de crescente instabilidade no Egito.

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