sexta-feira, 19 de julho de 2013

ARTIGOS: DORA KRAMER - MERVAL PEREIRA

Joio do trigo - DORA KRAMER

O Estado de S.Paulo - 19/07

O resultado da reunião da cúpula da segurança pública do Rio de Janeiro, com as autoridades praticamente dizendo que não sabem como lidar com multidões em estado de insatisfação, retratou o despreparo dos governos em geral diante de uma situação que não pode ser considerada nova mais de um mês depois de iniciada.

O do Rio em particular, pois o governador Sérgio Cabral Filho sustentou-se durante muito tempo no êxito das ações do secretário José Mariano Beltrame na retomada de territórios ocupados pelo tráfico de drogas e algum alívio no clima de insegurança.

Trincado esse pilar, afloraram os problemas acumulados no lado B da administração Cabral (guardanapos na cabeça, voo das babás, brigas com bombeiros, médicos e professores, relações estreitas com a construtora Delta) que, assim, entrou em modo de agonia.

Ele é, de longe, o chefe de executivo estadual que perdeu e continua perdendo mais. Não quer dizer que algum outro esteja ganhando esse jogo. Muito menos o federal. No lugar de perder tempo falando em plebiscito que ninguém pediu, poderia chamar os governadores para discutir a sério o problema.

Fato é que não dá mais para se olhar com condescendência o vandalismo que toma conta das manifestações de rua e criminalizar a ação da polícia. Ressalte-se a natureza pacífica dos protestos contra o descaso do poder público, mas não se ignore o caráter belicoso das arruaças que já não podem ser atribuídas a um "pequeno grupo de vândalos".

Uma termina desqualificando a outra. As depredações geram repulsa e medo na população que vê a expressão de suas demandas degenerarem em arrastões de violência. Isso é crime comum e como tal precisa ser combatido. O uso legítimo da força é prerrogativa do Estado e, quando dirigido dentro da lei a quem promove a desordem, não pode ser visto com desaprovação.

Já passou da hora de governantes federais, estaduais e municipais encontrarem uma maneira eficaz de conter a ação da bandidagem sem ferir o direito do público que expressa seu descontentamento dentro das balizas da ordem.

É complicado lidar com o inusitado misturado ao imponderável, mas cabe ao Estado distinguir as coisas e atuar para reprimir os bandidos a fim de assegurar o sagrado direito ao protesto dos manifestantes.

De outro modo, a continuar assim, o cidadão que exige tratamento decente acabará acuado e temeroso. O risco é de as manifestações perderem respaldo da sociedade. Por muito menos, o uso de métodos violentos levou o MST a perder o apoio social de que dispunha nos idos dos anos 90.

O dado concreto é que o arrefecimento da energia positiva que emergiu no Brasil em junho interessa primordialmente aos que são os alvos das demandas. Para eles, quanto mais cedo as ruas voltarem para casa melhor, menos respostas precisarão dar.

Mal contado. A presidente Dilma Rousseff voltou a insistir na tese de que os protestos de rua são consequência do sucesso dos projetos de governo no PT. "Quando promovemos a ascensão social, sabíamos que isso era só o começo das exigências", disse ela na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, outra estrutura que só tem tamanho e eficácia zero.

Tal raciocínio não para em pé. Se o governo sabia que as demandas viriam e tem perfeita noção de quais são, por que não agiu antes de modo a atendê-las? Portanto, ou não é verdade que percebeu que o País estava despreparado para absorver as mudanças na sociedade ou percebeu, mas achou mais confortável confiar na passividade coletiva e na mítica da popularidade sustentada em propaganda enganosa.


Baderna não é democracia - MERVAL PEREIRA

O GLOBO
Se o governador do Rio, Sérgio Cabral, leva até seu cachorrinho de helicóptero para o fim de semana em Mangaratiba e pretende continuar agindo assim, sem noção de que sua ostentação é ofensiva aos cidadãos do estado que governa, merece ser duramente criticado.

Os protestos podem até mesmo sitiá-lo no palácio onde despacha, e é discutível se sua residência privada deve ser ponto de protestos, perturbando a paz da vizinhança. O melhor mesmo talvez fosse que se mudasse para o Palácio das Laranjeiras, mas essa é outra discussão.

Mesmo que infiltrados nas manifestações existam agentes de seus concorrentes oposicionistas, como ele acusa, os protestos só encontram eco porque o governador tornou-se, por seus hábitos e gestos, um mau exemplo de homem público, mesmo que seja um bom administrador. Os inegáveis avanços na política de segurança pública, a melhoria econômica do estado, tudo é louvável, mas nada disso dá permissão ao governador de abusar de seus poderes transitórios.

Mas o que aconteceu ontem nas ruas do Leblon e de Ipanema é inaceitável em uma democracia, e não porque sejam os bairros mais ricos da cidade, mas porque vandalismo e depredação não são métodos de quem luta pela melhoria de vida das populações, mas de bandidos que devem ser repudiados pela sociedade e presos.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, revelou que fizera um acordo com a Ordem dos Advogados do Brasil e algumas instituições ligadas aos direitos humanos, como a Anistia Internacional, para não usar gás lacrimogêneo nem bombas de efeito moral, e o que se viu foram horas e horas de vandalismo nas principais ruas do bairro, mostradas tanto pela Globo News quanto pela Mídia Ninja, sem que nenhum policial aparecesse.

Só os arredores da residência do governador estavam fortemente policiados. Isso não acontece em parte alguma do mundo civilizado. O que a OAB tem a dizer, ela que se propôs a intermediar uma trégua? A impressão é que não se tem nem governo nem polícia nem lideranças capazes de combater a ação dos grupos de vândalos, perfeitamente identificáveis pelo Facebook.

Se os policiais não têm treinamento suficiente para enfrentar essas turbas sem cometer excessos, estamos mal parados. Se, por outro lado, ficam paralisados diante das acusações de abuso de força, estamos, nós os cidadãos, também em maus lençóis. Se, como adeptos de teorias da conspiração divulgam pela internet, a polícia do Rio de Janeiro deixou de atuar para justificar atitudes mais violentas em futuras manifestações, contando com a rejeição da população à baderna que tomou conta das ruas, estamos no pior dos mundos.

O desolamento que causava ontem ver o asfalto queimado, as lojas arrebentadas, bancas de jornal depredadas pelas ruas do Leblon só é comparável à revolta que dá ler as trocas de mensagens de pessoas que defendem abertamente no Facebook a depredação de bancos e prédios públicos como método de ação política.

Houve até quem tentasse pateticamente justificar os saques à loja da Toulon no Leblon dizendo que se tratava de uma loja para ricos, que tinha lucros com o trabalho escravo. Outro garantia que o produto dos saques foi distribuído entre moradores de rua das redondezas, querendo dar uma pátina de justiça social ao ato de puro banditismo.

O que aconteceu no Rio ontem já havia acontecido, em menor escala, na semana anterior e nas manifestações de junho em diversas cidades do país.

O ataque ao prédio do Itamaraty em Brasília, com coquetéis molotov provocando incêndios em seu interior, deveria ter representado uma linha simbólica da transgressão, a partir da qual as manifestações deixam de ser legítimas expressões de uma democracia vigorosa para passarem a ser sintomas de um país desgovernado, sem capacidade de distinguir a diferença entre Estado de Direito e baderna.

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