quarta-feira, 10 de abril de 2013

O LEGADO DE THATCHER = EDITORIAL DO ESTADÃO


10/04/2013
 às 12:05 \ Feira Livre

‘O legado de Thatcher’, editorial do Estadão

PUBLICADO NO ESTADÃO DESTA QUARTA-FEIRA
Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro”, será lembrada como uma das mulheres mais poderosas e influentes do mundo no período em que governou a Inglaterra. Limitar seu legado ao fato de que foi a primeira mulher a chefiar o governo de um país europeu é esquecer o papel histórico que ela desempenhou, cujos efeitos são sentidos até hoje, mais de duas décadas depois que ela deixou o poder.
Thatcher revolucionou seu país, resgatando-o dos grilhões sindicalistas e estatistas, e inspirou grande parte do mundo a fazer o mesmo, consagrando uma corrente batizada de “thatcherismo”. Poucos líderes contemporâneos tiveram tal relevância.
O país que Thatcher recebeu para governar, em maio de 1979, estava economicamente prostrado. A inflação havia atingido 25%, e a economia, que já crescia muito menos que a do resto da Europa, estava imobilizada por sucessivas greves, principalmente nos serviços públicos. Havia 1 milhão de desempregados. Dois anos antes, Londres recorrera ao Fundo Monetário Internacional (FMI), algo que até hoje é visto como uma das grande humilhações da história britânica. Era um país de joelhos. O governo do Partido Trabalhista, fiel ao ideário socialista, respondeu à crise adicionando gasolina ao fogo, isto é, elevando os gastos públicos, a estatização e a proteção aos salários.
Ao longo de seu governo, Thatcher avançou no sentido oposto, implementando uma arrojada agenda liberal – tão arrojada que, no início, sofreu resistência mesmo dentro de seu partido, o Conservador, pois alguns correligionários estavam preocupados com o impacto eleitoral negativo das medidas. Ela desregulamentou o setor financeiro, acabou com diversos benefícios sociais e promoveu um enorme programa de privatizações, reduzindo a presença do Estado na economia de 10% para 2%. Fechou estatais ineficientes e que não davam lucro, em especial nos setores de mineração e siderurgia, desmantelou a hegemonia das poderosas organizações sindicais e flexibilizou o mercado de trabalho.
Quando o número de desempregados chegou a 3 milhões, em 1982, os conservadores lhe perguntaram se não era o caso de recuar. “Esta senhora não é de recuar”, reagiu a primeira-ministra, revelando um de seus principais traços pessoais – a obstinação. Thatcher não hesitava em tomar medidas bastante impopulares se acreditasse que aquele era o caminho para fazer as reformas de que o país precisava. Apesar disso, ela foi reeleita duas vezes.
Os efeitos duradouros do thatcherismo fizeram-se sentir não só na economia, mas no cenário político britânico. A queda de braço que ela travou e venceu contra o poderoso sindicato dos mineiros de carvão, numa greve que durou um ano e que se notabilizou por episódios de violência, é considerada o grande marco de seu governo. A partir dela, o trabalhismo mudaria para sempre no país.
Os próprios trabalhistas hoje reconhecem que, se não fosse por Thatcher, eles não teriam passado pelo processo de depuração ideológica que afinal lhes devolveria o poder, com Tony Blair, em 1997. Blair elegeu-se com as promessas do “Novo Trabalhismo”, um eufemismo para a manutenção de políticas liberais de Thatcher. O principal partido de esquerda da Grã-Bretanha no século 20 rendeu-se às evidências de que o thatcherismo, orgulhosamente conservador, era mesmo um caminho sem volta.
No plano externo, ela mostrou sua determinação implacável ao entrar em guerra com a Argentina para defender as Ilhas Malvinas, em 1982, e teve papel importante na vitória ocidental na guerra fria, numa parceria com o então presidente americano, Ronald Reagan, e graças à sua aproximação com o dirigente soviético Mikhail Gorbachev. Mas são sua origem modesta e sua inabalável firmeza de propósitos que conferem autoridade moral ao legado de Thatcher. Filha de um quitandeiro, aluna de escola pública numa época em que a liderança conservadora britânica estudava em colégios da elite, Thatcher fez da austeridade, da devoção ao Estado de Direito e da fé na capacidade do indivíduo o seu apostolado.

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