segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Cordel III




(Orfeu)

13

Eu sou o caboco errante
Retirante do sertão
Minha voz é minha arma
Meu escudo e meu brasão
Cada palavra é uma bala
Que não erra a direção
É um tiro e uma queda
É o pipoco do trovão

14

Mais ligeiro que menino
Mais valente que vaqueiro
Sou mais quente que o sol
Sou brilhante o tempo inteiro
De noite sou curviana
Invadindo seu terreiro
De dia sou ridimunho
E trovoada em janeiro

15

Mais brabo que lampião
Mais famoso que Gonzaga
Mais temido que o cão
Mais querido do que água
E num se aperrei não
Pois no canto que eu morava
Quem vinha cantar mais eu
Chegava e perdia a fala

16

Veneno de cascavel
As garras do carcará
Uma seca desmantelada
Uma carreira de um guará
Pisa de bimba de boi
Dor de dente de lascar
Juntando tudo isso é pouco
Pra o que eu vou lhe falar

17

Não conheço cantador
Que queira cantar mais eu
Eu tenho pra mim que sou
Descendente de Orfeu
Tudo que é vivo se cala
Quando eu começo a rimar
Até o próprio tempo para
E só volta quando eu mandar

18

Eu sou o caboco errante
Escute isso e veja bem
Repare o que eu vou dizer
O que eu tenho ninguém tem
Um dom mais do que sagrado
Herdado divinamente
Muitos dizem que são bons
Mas nunca na minha frente


Ciço .Poeta, 09-11-2012

Um comentário:

  1. Obrigado por publicar mais um de meus singelos poemas em seu blog, Professor Faé! Sinto-me muitíssimo honrado, um abraço!

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