segunda-feira, 26 de novembro de 2012

“O Brasil continua sendo um país extremamente fechado”


  
Marcilio Marques Moreira
O fraco desempenho da economia brasileira tem sido alvo de extensos debates em torno da política econômica do governo e do Banco Central. As previsões do mercado reduzem as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em meio a um desempenho negativo da produção industrial no mês de setembro. Para falar sobre o assunto, o Instituto Millenium entrevistou o embaixador Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da fazenda e presidente do Conselho Consultivo do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO). Moreira lamenta a falta de investimentos no Brasil e critica a ausência de visão de longo prazo da sociedade como um todo, que na opinião dele, está demasiadamente preocupada com o consumo. A falta de infraestrutura também é lembrada: “Nossa indústria é competitiva em muitos setores, mas só até os portões das fábricas. Na rua há estradas esburacadas, mal sinalizadas e portos ineficientes.”
Instituto Millenium – Há um claro sinal de perda de dinamismo da economia brasileira. Alguns setores culpam a crise mundial, ao mesmo tempo em que outros países, também exportadores de commodities, crescem três vezes mais rápido que o Brasil. Por que isso acontece?
Marcílio Marques Moreira - O PIB potencial brasileiro caiu bastante nos últimos dois anos, e com ele caiu também o investimento. Além disso, outras medidas necessárias para o crescimento foram relegadas. O marco regulatório, por exemplo, está se mostrando extremamente frágil, não confiável e volúvel. Assim os investidores decidem não investir no Brasil, já que a incerteza para o empresário é o pior dos cenários.
Imil – Investimento e produtividade são dois fatores essenciais para o crescimento econômico. Como podemos aumentar o investimento no Brasil?
Moreira – É um problema difícil já que o governo tem incentivado muito mais o consumo que o investimento. A sociedade também parece preferir a onda do consumo, que está relacionada ao curto prazo. Longo prazo é investimento. Acho necessário que haja uma liderança para mostrar à sociedade as graves consequências da falta de investimento. Sem isso e sem produtividade não há crescimento que se sustente.
Imil – O consumo cresce em taxas elevadas ao mesmo tempo em que a indústria nacional se mantém quase estagnada…
Moreira – São políticas públicas equivocadas de aceleração de curto prazo e extremamente vulnerável, que logo volta à mediocridade. Qualquer possibilidade de fracasso econômico total ou abismo estão excluídos porque nós aprendemos a administrar crises. Por outro lado, não aprendemos a aproveitar oportunidades. Vamos resvalando para uma mediocridade, com crescimento baixo, contrariando a ideia de uma economia sólida, organizada de forma racional e estruturalmente moderna.
Imil – A produtividade do país depende de diversos fatores: progresso técnico, mão de obra qualificada, educação, e diversas outras medidas de longo prazo. As empresas poderiam aumentar a eficiência, mas a carga tributária ainda é um grande obstáculo para esse processo. Como o senhor vê a situação?
Moreira – A carga tributaria é um obstáculo e um ponto importantíssimo a ser debatido, mas estudos recentes mostram que a prioridade deve ser o investimento em infraestrutura. Nossa indústria é competitiva em muitos setores, mas só até os portões das fábricas. Na rua, há estradas esburacadas, mal sinalizadas, portos ineficientes etc. A infraestrutura brasileira é decadente.
Imil – A infraestrutura poderia aquecer os investimentos, no entanto, o Brasil hoje mal investe 2% do PIB em transportes…
Moreira - Esse número não é suficiente nem para uma manutenção adequada das redes de energia elétrica, ferrovias, aeroportos, quanto mais uma melhora na qualidade dos serviços prestados.
Imil – Por falar em transportes, como o senhor avalia o modelo de “privatização” dos aeroportos do governo Dilma?Moreira -Eu acho que é uma espécie de meio passo na direção certa, mas muito enfraquecido por certas preferências ou tabus ideológicos. Está claro para todo mundo que a Infraero é uma das empresas mais ineficientes que nós temos. Ela ficar responsável por metade do investimento nos aeroportos é algo berrante. Além disso, as qualificações para as concessões, tão importantes, foram medíocres. Inventou-se uma ideia de modicidade tarifária que não passa de ilusão. Se o empresário não tiver um retorno de seu investimento ele prefere não investir e Estado já provou não ter capacidade para investir. É preciso mobilizar poupanças nacionais ou estrangeiras, mas isso tem que ser feito de modo eficaz.
Imil – O senhor, em um evento recente na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), disse que um dos nossos desafios é aumentar a capacidade de indignação da população brasileira. “Nós temos uma economia muito fechada e uma satisfação geral das pessoas com essa situação”. Por qual motivo acredita que há essa apatia da sociedade brasileira? Como podemos mudar esse quadro?
Moreira – Parte da elite empresarial se acomoda com as demais facilidades, benesses e meias benesses do governo. Essa elite está mais interessada em uma proteção, que prejudica a competitividade e produção, do que realmente em um esforço para inovar. Falo de uma parte das elites. Já o grande grupo que está ascendendo à classe média não estava acostumado com uma série de comodidades que essa inclusão permitiu, mas que não trouxe consigo um esforço por educação e liderança ética. As pessoas precisam perceber que investimento precisa vir acompanhado de visão de futuro. Hoje em dia culpa-se muito a crise internacional por nossos problemas. Nós continuamos sendo um país extremamente fechado, com importações baixíssimas em relação ao PIB.
Imil – Para finalizar, gostaríamos de falar sobre a Petrobras. Porque o governo insiste na manipulação forte do mercado de combustíveis e como isso prejudica a eficiência da empresa e a economia brasileira como um todo?
Moreira – O governo tem medo que os preços tenham um impacto sobre a inflação imediata e acha que a maneira é controlar o preço da gasolina. Voltar ao controle de preços como fator de controle da inflação é uma prática condenada ao esquecimento. Além da distorção na alocação de recursos públicos e privados, o estabelecimento um teto no preço da gasolina criou um enorme problema para os produtores de etanol. Tem muita gente quebrando, tendo que se fundir para sobreviver… Nós importamos etanol e isso é um absurdo total. Estamos renegando uma importante fonte de energia renovável.

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