sábado, 6 de fevereiro de 2010

Celso Arnaldo: como uma pessoa com a cabeça no lugar diria o que Dilma aparentemente tenta dizer

O jornalista Celso Arnaldo desenha um preciso perfil de Marina Silva, explica por que não votará na candidata do PV, escancara as diferenças entre as duas mulheres que disputam a presidência da República e se lança a “um exercício hipotético, mas bastante lúdico: tentar reescrever a fala de Dilma Rousseff numa linguagem compreensível”. Um texto indispensável. Confira:

Não votarei na Marina Silva, que não tem nenhuma chance de ser eleita e, provavelmente, está ainda um pouco verde para um cargo que exige ─ mais do que sabedoria e absoluta correção, características dela ─ também malícia e instinto político, que ela não tem, para lidar com as bestas-feras que devoram o estado brasileiro pelas beiradas. Mas ouvindo Marina falar ─ mais do que falar, apresentar-se com aquela nobreza singela que chega a ser comovente ─ imediatamente se estabelece em nós o gritante contraste com aquela que, essa sim, lamentavelmente, tem chance de ser a primeira mulher a chegar à presidência no Brasil.

Analfabeta até os 15 anos, Marina então descobriu na educação o fio condutor de seu progresso como ser humano. Além de aprender tudo o que foi possível aprender, engajou-se, sem messianismo, numa causa mais exposta, a defesa do meio ambiente, ela que é sobrevivente de grave intoxicação por mercúrio.

Quando discorre sobre seus projetos para um Brasil mais verde e mais justo, com a mesma paixão que a intoxicante Dilma dedica à defesa do teratológico PAC, Marina usa uma linguagem clara, límpida, lógica, linear, corretíssima - o oposto radical de Dilma, que teve creche cinco estrelas na primeira infância, colégio Sion na adolescência, faculdade pública no Rio Grande do Sul (a comprovar), quase mestrado, quase doutorado e adora deitar falação, a seu modo, sobre os benefícios da educação.

E no entanto é muito mal-educada, na mais ampla acepção do termo.

Marina Silva quer mudar o mundo com um discurso aparentemente utópico, mas que faz todo o sentido possível. Dilma Rousseff cultiva e espalha a noção triunfal de que ela e Lula transformaram o Brasil na quinta maravilha do mundo ─ e, para tentar demonstrar isso, usa um discurso de ginasiana mal aplicada que faltou a todas as aulas de português e fez a turma levar bomba na hora de apresentar sua parte na prova oral.

Esse contraste me levou a um exercício hipotético, mas bastante lúdico: tentar reescrever a fala de Dilma numa linguagem compreensível ─-usando apenas os fragmentos de informações sem nexo e o arremedo de ideias contidos no seu atormentado pensamento.

Em suma, como uma pessoa com ideias no lugar e um bom domínio de sua língua — exatamente como Marina Silva — diria o que Dilma aparentemente tenta dizer?

Como exemplo, selecionei as duas internações mais recentes.

DILMA:
“No PAC, esse segmento do gasodutos ele é muito importante (..) permite que hoje, com a temperatura que nós temos aqui, está previsto que mais ou menos se atinja algo como 36, 37, 38 graus, isso implica consumo de ar-condicionado, implica também o fato de que nós sabemos que houve, porque o presidente diminuiu a isenção do IPI, uma compra, né, de eletrodomésticos, a chamada linha branca, né, geladeira e outros eletrodomésticos, permitindo então que as pessoas também tivessem um nível melhor”.

PESSOA ARTICULADA:
“Gasodutos como este têm um papel muito importante no conjunto das obras do PAC, porque eles não transportam apenas energia, mas qualidade de vida. E qualidade de vida significa poder ter na sua casa, por exemplo, um aparelho de ar-condicionado para enfrentar um calorzão como o de hoje, aqui em Duque de Caxias. Uma obra como esta, além de gerar empregos, garante que mais brasileiros, beneficiados pelo aumento da renda, possam continuar indo às lojas para comprar seus eletrodomésticos, como vimos nos últimos meses, com a redução do IPI. Pois todos terão a certeza de que não faltará energia em suas casas”

DILMA:
“Dar um passo além no sentido de que todas as crianças do Brasil tenham direito a creche (…) Porque todos os estudos mostram que a diferença, a diferença, o momento importantíssimo na vida de cada um de nós seres humanos se dá entre 0 e 3, 3 e 5 anos, que é quando a gente se forma. E quando uma pessoa, quando uma criancinha não tem na família o acesso a livros, o acesso a todas as questões culturais que uma criança de classe média tem, ela não tem a mesma oportunidade do que as outras (…) Vocês vejam que é possível perfeitamente ter uma visão ampla do país, unir gasoduto com creche pra criança”.

PESSOA ARTICULADA:
“É preciso avançar no sentido de oferecer creches públicas a todas as mães que trabalham fora e não têm com quem deixar seus filhos. Há estudos mostrando que a creche pode ter um importante papel na formação de crianças carentes, pois, além de proporcionar carinho e alimentação de qualidade na ausência da mãe, é ambiente que estimula o contato com outras crianças e com as primeiras letras. Uma creche pode fazer toda a diferença na vida de uma criança. Por isso, pode ser tão importante quanto um gasoduto como este”.

A conversão parece fácil, mas é muito difícil, dada a precariedade do material original. Mas este jogo “Conduzindo Miss Dilma” pode ser bastante divertido, não?

Um comentário:

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